Presidente Zeman Perante a UNGA: Realismo, Terrorismo e Migração



O Presidente Milos Zeman, da República Checa, fez um discurso conciso – mas directo – perante a 72ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA). Tal como o Presidente Trump, ele defendeu o Realismo (um reflexo da conjuntura actual); em oposição à Democracia Parlamentar Liberal, que o Presidente Zeman sugeriu ser um sonho (é oportuno mencionar em que contexto estes comentários foram feitos: o presidente checo partilhava dois dos livros que tiveram um impacto profundo nele, o End of History de Francis Fukuyama [um sonho] e o The Clash of Civilisations de Samuel Huntington [realista]. Em pouco mais de 11 minutos, o Presidente Milos falou de Terrorismo e da Crise da Migração.

Terrorismo

A Crítica

"Devem saber que sob a égide das Nações Unidas, há trinta e oito, repito - 38 - organizações e institutos de contra-terrorism. Pelo amor de Deus - 38. Acho que quanto maior o número dessas instituições, mais movimentos terroristas florescem e o que precisamos é um único gabinete forte para combater o terrorismo (..)"

Desde o 11 de Setembro, brotaram várias indústrias relacionadas com o Terrorismo: Institutos de Contra-terrorismo multiplicaram-se, foram criados cursos e conferências, Investigadores debruçaram-se sobre o assunto e praticamente toda a gente se tornou um perito de Terrorismo/Contra-Terrorismo. Mas o que é que ganhámos com isso exactamente? Inicialmente, só tínhamos a Al-Qaeda para nos preocuparmos; agora temos a Al-Qaeda e subsidiárias; o ISIS e subsidiárias; o Khorasan e subsidiárias; a OLP e subsidiárias; os Mujahideen da Índia e Cª limitada a subdividirem-se e a trabalharem juntos como uma Hydra. 38 organizações de CT e não estamos nem perto de encontrar uma solução para o problema.

“Já aqui critiquei a ONU por não ser capaz de definir o terrorismo mundial. (..) Já se passaram setenta anos durante os quais não se conseguiu definir o terrorismo, mas por outro lado aprecio imenso a acção do Secretário-Geral e a criação de um novo gabinete, o Gabinete de Contra-Terrorismo, (..)”

O obstáculo para a definição de Terrorismo só pode ser um misto de Ego e de Política: ego, porque vários investigadores competem entre si para encaixarem a sua definição num documento da ONU; e Política, porque os governos socialistas e autoritários usam o termo para perseguir dissidentes, enquanto os restantes governos usam o termo para inflacionar os número de ataques terroristas).

O Professor Boaz Ganor já contribuiu com uma Definição de Terrorismo à prova de bala:

"Terrorismo é o uso intencional, ou a ameaça do uso, de violência contra civis ou contra alvos civis para atingir objectivos políticos (...) baseado em três elementos importantes:

A essência da actividade (i.e. uma actividade que não envolva o uso, ou ameaça do uso, de violência não será definida como terrorismo).
O objectivo da actividade é sempre política (i.e. na ausência de um objectivo político, a actividade levada a cabo não será definida como terrorismo).
Os alvos são civis (i.e. todos os actos são propositadamente direccionados a civis; o que separa actos terroristas de outros tipos de violência política [e.g. guerra de guerrilha e insurreição civil]."

Por isso, agora temos um novo tipo de civilização. Eu chamar-lhe-ia a anti-civilização que emergiu nas últimas duas ou três décadas. A característica típica desta civilização é o facto de se basear no terror e em nada mais que o terror (..) infelizmente, ainda hesitamos em combater a anti-civilização terrorista com todo o nosso poder. - Presidente Zeman

Agora a ONU criou um novo gabinete de contra-terrorismo, praticamente um gabinete de Relações Públicas para a área de CT [Ler Aqui, em Inglês]: é bom ver que a ONU só demorou 16 anos e “38 entidades de Força-Tarefa para Implementação de Contra-Terrorismo” para fazê-lo – o que devemos inferir disto?

Crise da Migração

“A Migração é parcialmente provocada por acções terroristas, por exemplo na Síria ou no Iraque. Mas por outro lado, a migração está conectada com o terrorismo porque alguns jihadistas se escondem nas vagas de migração. E na Europa e por todo o lado, eles criam unidades adormecidas, lone wolves e tudo o mais.”

Em 2015, o ISIS afirmou ter infiltrado 4.000 dos seus homens na Europa através da vaga de migrantes. Agora só podemos imaginar quantos mais tenham entrado nos últimos dois anos. Creio que todos se lembram que os ataques terroristas de 2016 e 2017, por essa Europa a fora, provaram a posição do Presidente Zeman, e por isso o seu país não é obrigada a apoiar a entrada de migrantes no seu território.

“Mas a minha oposição começa no facto da migração massiva oriunda de África e de outros países representarem uma fuga de cérebros. Os jovens, pessoas saudáveis, principalmente homens, que deixam os seus países representam o enfraquecimento do potencial daqueles países e toda a gente que dá as boas-vindas de migrantes à Europa concorda com essa fuga de cérebros e com o atraso perpétuo desses países.”

Estarão os grupos de Esquerda a promover a fuga de cérebros africanos de modo a condenar o continente ao atraso? É este o Plano da Esquerda? Isso explicaria não só porquê que tão pouco tem sido feito para ajudar a combater a corrupção em África mas também porque é que tanto se tem feito para a promover (como exemplificado Aqui e Aqui).

“Nós precisamos é de ajudar esses países com electricidade, hospitais, escolas, água e etc para estabilizarmos a população nesses países domésticos, não de apoiar a migração.”

A Europa e os EUA precisam de uma estratégia sólida para África, o que não têm de momento. Há anos que usam o Continente Africana para jogar à política, para travar guerras proxy, para explorar recursos naturais, para estrangular os agricultores africanos ao enviar produtos subsidiados para ali, para enriquecerem etc, tudo menos assegurar uma vida decente ao Povo Africano no seu próprio continente, no seu próprio país. Esta falta de estratégia é vergonhosa.

Conclusão

Mais um discurso que reflecte o renascimento do Realismo e da Política de Poder. Nele, o Presidente Milos Zeman praticamente acusa o mundo de estar perdido e de ser inepto no que toca ao Contra-Terrorismo e de ser insidioso quando promove de propósito a fuga de cérebros do Continente Africano.

(Imagem: President Milos Zeman - UNGA)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários